"A queda de um lorde sombrio, em nome de seu senhor"
Era noite, os cinco marchavam para cumprir sua missão. Durante horas eles escalaram aquela enorme montanha, imponente e perigosa, enquanto eram castigados pela forte tempestade que os golpeava. Do alto podiam-se ouvir os trovões ecoarem em um som que preenchia os céus de maneira quase que total...
-Quando chegaremos ao local? – Inquiriu Razien para qualquer.
-Não se preocupe Razien, está bem perto. – Sleght respondeu a pergunta, e continuou - Todos nós estamos ansiosos para cumprir a ordem do mestre.
Chegaram ao pico daquela montanha.
O lugar era plano, repleto de rochas e uma densa vegetação. De maneira sutil, Sleght ordenou a três dos homens que parassem de andar, apenas Razien, para quem Sleght não havia dado a ordem continuou andando. Os quatro se agruparam lado a lado, se olharam por um momento, e com um leve sorriso macabro, Sleght não precisou dizer nenhuma palavra para que os três compreendessem que o momento havia chegado.
Razien continuou a andar, estava muito distraído para perceber que os quatro já não o acompanhava mais. Porém mesmo sob o som da tempestade, seus ouvidos de elfo podiam reconhecer muito bem o som de metal rangendo, lentamente, como uma canção desafinada de uma espada deixando a bainha.
Ele subitamente parou de andar.
Sentia que algo estava errado, só não sabia o que. Moveu o rosto para trás e observou os quatro companheiros lado a lado, empunhando suas espadas e o encarando. Calados, imóveis.
-O que foi? –Indagou a voz suave do elfo.
-Nós chegamos Razien. Esse é o local... –Respondeu Sleght, mantendo a mesma postura imóvel dos outros
-Não vejo templo algum, e também não vejo druidas. Onde está? – Requisitou a resposta de maneira exaltada, voltando-se de frente para o humano.
-Nunca houve templo algum, Razien. Mas nós quatro ainda temos uma missão.
Sleght ergueu sua espada na altura da boca, passando a língua na lamina da arma, viajando com ela do cabo a ponta, sempre com o olhar fixo no elfo.
Razien reconhecia aquele gesto. Sleght costumava repeti-lo sempre que estava preste a matar, e só após isso o elfo entendeu a real missão.
-Traição! –esbravejou com todo o ódio que havia contido durante toda a subida da montanha.
-Traição? Não... É a vontade de nosso Senhor! –O fanatismo se fez presente em cada uma de suas palavras.
Sleght era o membro de maior poder ali presente, por esse motivo era ele quem ditava as ordens, que nem sempre eram com palavras. Saltou em direção ao seu oponente desarmado, empunhando sua espada longa de lamina negra acima do pescoço, desferindo um golpe veloz em direção a face do elfo.
Razien podia não ser o mais poderoso da Ordem dos Três, mas sua percepção e reflexos eram muito alem do que qualquer outro do grupo, e não foi difícil pra ele prever o golpe. De maneira rápida e natural, sacou sua espada da bainha e com a mesma destreza e velocidade bloqueou o ataque de Sleght, empurrado as duas laminas na direção do seu oponente.
-A sua traição será punida com a morte! – Proclamou fitando os olhos de seu rival.
Sleght deixou escapar largo sorriso de maldade. De forma traiçoeira, sacou uma pequena adaga sob a mortalha que trajava e desferiu um golpe veloz, cravando a arma no ombro direito de Razien.
A lamina da arma penetrou fundo na carne do elfo, atravessando seus tecidos musculares e esbarrando em seus ossos. Deixou sua espada tombar ao chão, e levou a sua mão esquerda ao ombro. Notou que a adaga ainda estava lá.
Havia mais do que uma lamina afiada naquela adaga. Sleght costumava envenenar algumas de suas armas com toxinas capazes de matar até mesmo gigantes em apenas alguns minutos.
-Maldito seja, Sleght! –Amaldiçoou, tentando retirar a adaga cravada em seu ombro...
-Você esta acabado, elfo imundo. Acabado como todos os outros! –Disse Sleght, enquanto apanhava a arma que o elfo deixara cair.
Razien sentiu suas pernas fraquejarem. Sentiu sua visão tontear, e estava cada vez mais difícil se manter de pé. Tentou caminhar em direção a Sleght, mais tudo que conseguiu foi tombar de joelhos, aos pés de seu juiz negro. Os outros três guerreiros, que antes apenas observavam, se aproximaram, cada um empunhando sua arma.
Eram Khorb, o grandalhão com uma clava de batalha, Faerim, o mais pequeno do grupo, porem ágil com suas garras presas aos pulsos, o outro era Zender, o mais misterioso dentre eles. Nunca alguém viu seu rosto, ou ouviu sua voz, suas armas eram suas mãos, que guardavam um poder obscuro, tão misterioso quanto ele mesmo.
-Agora o que faremos Sleght? –Indagou Khorb, arrastava a clava pelo chão em um contido frenesi por sangue. –Deixar que ele levante para só então lhe corta os membros?
-Não vai se levantar Khorb, ele já está morrendo lentamente. O veneno na adaga é bastante poderoso, e quando injetado bem dentro do corpo da vitima, mata em questão de horas...
-Então não podemos nos divertir durante essas horas? –Indagou a figura grotesca com a clava nas mãos.
Zender caminhou em direção a Razien, sem dar atenção para os outros. Ele se abaixou até a altura dos olhos de Razien. O Elfo, com muita dificuldade, ergueu a cabeça para olhar quem era aquele que estava a sua frente. Mesmo olhando bem de perto, era impossível ver o rosto daquele homem. Notou que era Zender, e nessa hora também percebeu o que estava pra vir. O toque da morte.
Zender era um dos mais estranhos da Ordem dos Três. Sempre trajava uma armadura bem leve, e um par de manoplas de couro, alem do manto negro, típico dos membros dessa ordem. Estranhamente ele tinha o habito de olhar nos olhos antes de matar, ninguém sabia o motivo.
Retirou uma de suas manoplas, e em seguida, com a mão nua, pegou Razien pelo pescoço, erguendo-o e suspendendo-o do chão. O elfo sentiu sua vida escapando de seu corpo, dolorosamente, e devagar.
Razien sabia que se aquilo continuasse ele morreria em pouco tempo, então com as ultimas forças que ainda percorria seu corpo, atacou o rosto de Zender com sua mão esquerda. O metal da manopla do elfo cortou profundo o rosto do homem, fazendo o sangue escorrer pela armadura, misturando-se a água do chão. Nunca alguém havia derrubado seu sangue, ou tocado seu rosto.
Zender, com um forte movimento, arremessou Razien com tamanha força que o fez planar pelo solo rochoso da montanha, parando apenas poucos metros de um abismo. O homem repôs sua manopla e voltou para perto dos outros três.
-Razien atingiu Zender no rosto. Sempre quis fazer isso! –Disse Faerim, com a expressão esquizofrênica de sempre.
-O Elfo lhe feriu, Zender? Você foi descuidado, e ainda acertou seu precioso rosto. –Debochou Sleght.
Zender apenas olhou de lado, como sempre fizera em resposta a quase tudo. Os Quatro caminharam em direção ao corpo caído à beira do abismo. O elfo não podia sentir nem mais a chuva golpeando seu corpo, nem a ventania gelada que outrora o cercava forte e veloz. Ele estava quase inconsciente, e não podia mais se mover. Os quatro pararam em frente a ele, e somente Sleght continuou andando, até a beira daquele precipício. Era muito alto, quase não se podia ver o mar, mas seu som golpeando a montanha podia ser ouvido amplificado pelos trovões daquela tempestade.
-E assim será feito mais uma vez, meu Senhor! –Sussurrou Slegth, voltando até o elfo.
Ele o chutou Razien com toda força e violência, arremessado-o do alto daquele abismo.
-Nossa missão acabou aqui. Vamos embora! –Ordenou para os outros.
Os Quatro desceram a montanha satisfeitos, não por cumprir uma missão, pois para um lorde sombrio, isso era apenas uma obrigação. Estavam satisfeitos por tirar uma vida naquela noite, porém, não saciados...
Dor, morte e destruição. Foi o que deixaram pelas vilas por onde passaram...
Paulo “SpeedRain” Rodrigo
(Retirado da revista Contos do bardo #1)
3 comentários:
Gostei!
Poderia usar esses como NPCs do cenário novo, ou de qualquer outro com leves modificações.
Vai ter continuação?
Sim, eu pensei em ambientar esses fatos em Terra Quebrada.
Uma continuação? É possivel sim, eu até tenho umas idéias sobre isso.
Agradecemos pelo comentario, continue nos acompanhando!
Adorei o texto!
=D
Muito bom
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