Caros leitores RPGgistas e afins, creio que uma das grandes dificuldades de várias pessoas quanto ao RPG é a interpretação. Mas afinal, qual é a sua importância nos jogos? O Role Playing Game, se traduzido ao pé da letra significa jogo de interpretação de personagem. Ou seja, um jogo de interpretar, de fazer de conta. Parece simples, não? Pode até ser, mas realmente, é uma das grandes dificuldades de jogadores iniciantes e até mesmo de alguns experientes.
Eu ando observando já algum tempo que, com vários sistemas de RPG se tornando cada vez mais complexos, se aproximando dos games de consoles, os jogadores estão buscando o personagem mais forte, com os melhores poderes e atributos em geral, e nunca um personagem com uma boa história, que seja interessante de se interpretar.
A primeira coisa a se fazer na criação do seu personagem deve ser sua história. Onde ele nasceu? Por que tem suas habilidades? Qual a causa de ser quem é hoje? É uma parte complexa, mas essencial. O mestre pode sugerir histórias que se encaixem em sua aventura, ou deixar que os próprios jogadores criem sua história. Mas por favor, nada de “João era um garoto que morava em uma aldeia e, entediado com o lugar, resolveu se armar com uma espada e viver uma vida de aventuras atrás de ouro e glória.”
Seu personagem também deve ter suas próprias opiniões sobre diversos assuntos, em seu devido tempo. Se for um guerreiro medieval, qual sua bebida favorita? Ele é fiel a alguém? O que ele faz com seu tempo livre? Qual sua opinião quanto aos altos impostos que seu suserano cobra dos aldeões de sua terra? Ele não pode simplesmente lutar pelo que mandam e fazer todas as missões propostas. Um paladino não busca poder ilimitado para destruir o mundo, assim como um meio-orc bárbaro não irá atrás de pergaminhos para um clérigo de Tanah-Toh (deusa do conhecimento em Arton), pois ele não busca conhecimento. Ou não. Isso dependerá do próprio personagem.
Guerreiros, bárbaros, e as classes “porradeiras” em geral são as mais fáceis de interpretar, recomendadas para jogadores iniciantes, por estarem sempre em batalhas, não se envolvendo muito com testes de perícias e magias, além de aceitarem as histórias mais simples. Paladinos, rangers, monges e bardos podem ser bem mais complexos, por seguirem ordens divinas, tendo de cumprir suas obrigações para garantirem seus poderes. Eles podem estar em missões mais complexas, aquelas que nem mesmo exigem batalhas.
Outro erro comum é quanto a experiência. Ela não precisa ser ganha apenas matando criaturas, como a maioria dos jogos eletrônicos. Diga-me, como um clérigo de Marah (deusa da paz em Arton) que não pode jamais ferir alguém, subiria níveis de personagem? Esse tipo de personagem não se envolve em aventuras que exijam combate, ao menos que estejam escoltados por guerreiros. Mesmo assim, esse clérigo não gostaria de ver a batalha, certo? Posso dar como exemplo um antigo personagem, o Mike Force, um hacker. Por incrível que pareça, ele era o personagem com nível mais alto da mesa, só tendo matado uma pessoa em toda a campanha (sim, aquele policial mereceu morrer!), ganhando toda sua experiência apenas com suas perícias. Esse tipo de personagem é bem mais difícil de interpretar, sendo recomendado para jogadores experientes, mas nada impede de novatos escolherem paladinos, assim como veteranos pegarem os guerreiros.
Personagem criado, história definida, personalidade criada e equipamento devidamente escolhido. Agora é hora de começar a jogar, hora de interpretar. Entre em seu personagem, sinta o que ele sente, pense como ele pensaria. Você não deve agir de acordo com o que você acha melhor, deve agir como o personagem agiria. Um mercenário pode muito bem trair seu grupo por algumas moedas de ouro. Um ladino pegaria aquele anel mágico que o feiticeiro de sua equipe conseguiu comprar com muito esforço para vender na próxima cidade, assim como um anão usaria aquelas moedas que o grupo guardou para poções comprando cerveja. Isso é interpretação, fazer o que o personagem faria naquele momento. Se ele não pensa no grupo, por que agir para o bem do grupo?
Uma boa maneira de incentivar a interpretação nos jogos de RPG é recompensando os jogadores que melhor interpretaram seus personagens com pontos de experiência, itens ou qualquer outro tipo de premio escolhido pelo mestre. Isso fará com que os personagens queiram estar interpretando cada vez melhor, almejando ganhar uns pontinhos de experiência a mais. Humanos são assim, não podemos negar.
Ler bastante também ajuda a interpretar, qualquer tipo de livro. Eu recomendo os suplementos do cenário em que o mestre está narrando, pois eles fornecerão informações sobre o cenário que farão com que você possa se ambientar melhor e, conseqüentemente, interprete melhor.
Filmes, músicas, tudo isso pode servir de inspiração para a criação do personagem.
Crie um personagem que te inspire, que te faça querer sempre estar na pele dele, assim os jogos serão sempre mais interessantes, mais divertidos. Apaixone-se por ele, queira seu sucesso em meio ao seu mundo, não precisa ser o mais forte de seu grupo, mas faça com que ele realize seus desejos, faça-o feliz, seja feliz com ele. Expresse-se pelo seu personagem, transmita o que ele sente, o que ele pensa. Não seja você mesmo!
O importante é que você se divirta com o seu personagem e com o dos outros, faça com que eles se relacionem não como você e seu colega de RPG, mas como personagens. Um elfo e um anão quase nunca se dão bem... Crie personagens que possam ser chatos para a equipe, isso quebra o gelo da aventura, torna ela engraçada e divertida. Faça guerreiros corajosos, bardos covardes, paladinos honrados e ladinos escorregadios, há muitas possibilidades de personalidades, escolha uma! Mas se quiser fazer algo comum, algo clichê, que seja bom, com uma boa história e uma personalidade própria. Nada te impede de fazer isso, basta interpretar!
Interprete, libere o ator dentro de você! E bom jogo.
Mário Gobbo
Nenhum comentário:
Postar um comentário