Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante...
O império sufoca a todos. os últimos mundos livres estão caindo, e com eles tudo o que ainda havia da velha republica.
Os jedi estão quase extintos, os poucos remanescentes se escondem nos mais remotos lugares da galáxia, onde os braços opressores do império ainda não puderam chegar.
Com a destruição do conselho, a cultura jedi está se perdendo na mesma proporção com que o os sith prevalecem sobre a face da galáxia. em tempos difíceis como este, os jedi ainda incorruptos buscam meios de continuar o seu legado, ensinando tudo o que sabem para aqueles com a mínima aptidão à força... ou até mesmo para aqueles sem aptidão alguma...
● ● ●
–Mestre Thai Kotax? –Chamei enquanto ainda percorria os últimos metros da trilha que levava ao caluje improvisado entre as fendas da montanha. O velho homem estava sentado no chão entre as arvores, de costas para mim. Ao ouvir minha voz, ele não esboçou ação alguma, permaneceu como estava.
–Sei exatamente o que quer jovem Leen. –Sua voz era calma, e suas palavras eram sempre entoadas por uma certeza incomum. –E a minha resposta para a pergunta que fará é não. –Uma certeza que me assustava!
Sentei-me frente a ele. Eu estava inconformado, sempre estive inconformado. Eu era um excelente padawan, e minhas habilidades com sabre de luz estavam muito além do que as de muitos Jedi da Velha República. O próprio mestre Kotax havia dito.
–Mestre, eu posso! –Afirmei. –Eu sei que posso!
–Não pode jovem Leen... Um Jedi não é constituído apenas por sua destreza com sabre de luz, há muitas outras coisas além da comum compreensão do mundo.
–A Força! –Falei em tom de blasfêmia.
–Sim, a Força. –Disse ele, gesticulando com as mãos. –O poder e a essência de um Jedi fluem da Força, dando-o sabedoria para agir e pensar.
Baixei a cabeça e fixei o olhar no chão. Eu conhecia muito sobre a Força, o bastante para saber que eu não podia senti-la, ouvi-la sussurrar...
–É injusto! O senhor me treinou desde que eu era apenas uma criança, e para que? Não posso ser um Jedi... A Força é um poder que eu não tenho. –E sabia que nunca a teria.
–Se engana! –Disse ele, bastante convicto. –A Força está dentro de todas as criaturas, porém, o dom da força é para poucos.
–Não é para mim... O senhor devia saber quando me viu pela primeira vez. –Falei. –Por que me tomou como aprendiz padawan? –Era uma coisa que eu sempre quis saber. Não havia razão em ensinar as artes Jedi para alguém que nunca poderia usá-las.
Meu mestre colocou a mão direita em meu ombro, aspirou profundamente e encarou meu rosto. Não o encarei de volta, não queria que ele visse a raiva em meus olhos, embora eu soubesse que ele poderia senti-la da mesma forma.
–Leen, há um momento na vida de um Jedi em que ele precisa passar seu conhecimento adiante. Foi o que fiz, mesmo que tenha sido para uma pessoa sem aptidão à Força. Ensinei a você tudo que aprendi durante minha vida.
–Eu sei disso, mestre... –Engoli minha raiva. Meu mestre estava certo. Eu não poderia ser um Jedi.
Ele levantou-se devagar, dirigiu-se para uma área onde havia poucas arvores, e era possível ver o firmamento.
–Vê aquilo? –Indagou ele, apontando com a mão para algum lugar no alto.
Levantei-me e me aproximei, direcionando o olhar para direção que ele apontara. Não havia nada além de uma estrela avermelhada quase tocando o horizonte, e duas pequenas luas ofuscadas pela luz difundida na atmosfera.
–Não há nada lá mestre. –Respondi.
Ele desceu o braço e deixou escapar um contido sorriso.
–Sempre há alguma coisa para onde quer que nós olhemos, podemos dizer que não há, mas estaríamos sendo pessimistas dizendo isso.
Tornei a olhar para lá tentando ver o que ele queria mostrar. Não havia nada.
–Não entendo mestre.
Ele tornou a por a mão em meu ombro, e dessa vez o olhei de volta. Ele me olhava nos olhos com o mesmo aspecto sereno que sempre tivera.
–O tempo traz a resposta para todas as incógnitas do universo, Leen Ghunar, com o tempo você entenderá.
–Espero que sim mestre. –Falei em um quase sussurro.
–Agora deve ir para o seu povoado, já vai anoitecer e a floresta é perigosa à noite. –Aconselhou ele.
E ele tinha razão, percorrer essas matas depois do por do sol nunca era seguro, e eu só tinha apenas algumas horas de luz do dia para chegar à Yutar.
–Irei agora mesmo mestre. –Respondi. Voltei-me para a trilha na mata pela qual havia chegado, e comecei a andar devagar.
–Leen? –Chamou a voz de meu mestre. Parei de caminhar, e olhei para trás.
–Que a Força esteja com você! –Desejou ele.
–Com senhor também, mestre. –Continuei pelo caminho rumo ao povoado.
Thai Kotax era quase um velho, devia ter uns cinqüenta anos, pois alguém tão sábio não poderia ser mais jovem que isso. Embora tenha me instruído desde quando consigo lembrar, ele nunca falou de si mesmo para mim, ou falou sobre seu passado. Mas eu via em seu rosto, havia nele um vazio distante quando olhava as estrelas, e muitas vezes quando ele olhava para mim. A queda da República talvez não tenha afetado o povo de Yutar da mesma maneira que parecia ter afetado meu mestre, mas os Jedi pareciam otimistas perante a tudo. Kotax parecia.
● ● ●
Estiquei-me com força, esfreguei os olhos e os abri. Era dia, os feixes de luz transpassavam as frestas do telhado, do oeste para o leste, em um ângulo quase que horizontal, relatando-me que ainda era demasiado cedo.
–Bem na hora. –Pensei. Eu deveria ir até a feira de Yutar para negociar a colheita com alguns viajantes de Terulia. Era a única coisa que tinha para fazer aqui nesse fim de mundo. Levantei-me depressa e logo fui me aprontar. Quanto antes eu acabasse mais tempo teria para permanecer com o mestre. Vesti-me, e peguei o único objeto que me importava, o sabre de luz entregue a mim pelo próprio Kotax.
Logo já estava pronto. O Eopie com a carroça me esperava do lado de fora da minha casa. Minha mãe ainda estava lá. Ela amarrava as rédeas no animal, que já estava corretamente selado.
–Bom dia mãe! –Cumprimentei-a.
–Leen, vejo que já está pronto para ir!
–Sim estou!
–Não esqueça, não troque a mercadoria por menos de três Arbaches, precisamos de mais deles para aumentar a produção de ovos! –Avisou, fazendo um gesto indo e voltando com a mão em minha direção.
Caminhei até o eopie preso a carroça, segurei-me a sela e montei sobre o animal.
Yutar era uma cidadela simples e de aspecto primitivo, o desenvolvimento tecnológico e a arquitetura típica das grandes metrópoles não haviam chegado aqui, então a feira livre era bastante rudimentar, não havia vendedores de sucatas ou aparatos sofisticados. Um dos motivos para isso talvez seja o fato de que Yutar não faz uso da moeda imperial, tudo aqui é movido por permutas baseadas em mercadorias diversas. É o que eu ia fazer.
Cheguei à feira pouco tempo após ter partido. Estranhamente havia menos pessoas do que o habitual, em dias comuns as ruas costumavam ficar intransitáveis, porém, os poucos que ali estavam já eram o suficiente para infestar todo o local. Os gritos se faziam ouvir pela multidão, misturando-se aos grunhidos dos vários tipos de animais que estavam à venda. Tentava reparar em cada um dos gritos, até que um deles me chamou a atenção.
–Arbaches! –O anuncio vinha de um teruliano de baixa estatura e vestes rudimentares. Aproximei-me com a carroça, e a estacionei bem ao lado dele.
–Ouvi o senhor falar arbaches? –Indaguei.
O pequeno homem olhou para mim, esticando a boca em algo que me parecia um sorriso.
–Foi o que ouviu, jovem humano! –Respondeu. Ele caminhou em direção a um objeto retangular envolto a uma lona de couro, e o descobriu. Era uma gaiola de talas de madeira, e havia muitas arbaches em seu interior. As aves se empurravam euforicamente, em rotas aleatórias e desajeitadas. –Vê? Elas estão saudáveis!
–Sim, estão ótimas. –Desci do lombo da minha montaria e me aproximei da gaiola. Observei as aves e me dirigi ao dono. –Tenho uma carroça repleta de legumes e frutas, quantas arbaches quer pagar?
–Frutas e legumes... Acho que não posso pagar mais do que duas. –Disse ele.
–Duas? Ora vamos, tenho certeza que valem mais. Acho que poderia pagar quatro arbaches!
Ele me encarou irritado. Como eu previ, essa seria a hora do blefe.
–Nada feito, pode ir embora! –Retrucou.
Caminhei devagar para perto do meu eopie e segurei suas rédeas.
–Que pena, há mais alimento aqui do que em quatro arbaches... –Falei enquanto puxava o animal devagar.
–Espere! –Chamou ele. –Acho que posso pagar três delas, o que me diz?
–Como ouviu senhor, há mais alimento aqui do que em quatro delas!
O homem apertou a testa e balançou a cabeça.
–Está bem, darei quatro, mas é bom que suas mercadorias estejam tão boas quanto as minhas! –Avisou.
Ele foi até a gaiola, e pegou quatro dos animais, segurando-os pelas patas. Amarrou uns aos outros e colocou no chão, próximo aos meus pés.
–Não se preocupe, o senhor verá que estão! –Garanti. Fui até a parte traseira da carroça, e comecei a tirar as caixas onde estavam condicionadas as frutas e os legumes, colocando-as empilhadas no chão. –Pronto senhor, estão todas aqui!
Deixei o homem com os caixotes e tomei as rédeas de minha montaria. O pequeno humanóide não se importou em despedir-se, parecia concentrado demais analisando o conteúdo de cada uma das caixas. Rumei de volta para casa, passando cautelosamente pelas ruas da feira, concentrando-me em não esbarrar com ninguém. Já ocorrera algo assim uma vez, e se não fosse pela intervenção de meu mestre, o mandalorian teria resolvido o impasse de forma não muito amigável. Porém, não precisei esbarrar em ninguém para chamar a atenção.
Até aquele momento eu ainda não havia compreendido a razão para a feira estar tão vaga, mas o que avistei poucos metros a frente me fez entender. O Império estava aqui. Um grupo de pelo menos sete soldados imperiais, até onde pude contar. Estavam fortemente armados e pareciam vigiar as ruas e todas as pessoas que transitavam por elas.
–O que as tropas imperiais fazem aqui? –Pensei. Não havia sentido, Yutar era um dos planetas mais distantes de qualquer outro lugar civilizado que se pudesse encontrar na galáxia, o império jamais se interessou em controlá-lo, uma vez que sua influencia política era insignificante, e seu poder bélico equiparável ao de uma tribo de ewoks. A presença deles aqui não fazia sentido.
Não demorou mais que um breve instante para que um deles viesse em minha direção. Ele trajava uma armadura mais robusta que o padrão, e havia marcas de cor azul estampadas em algumas das peças dela.
–Deve ir para sua casa, senhor! –Ordenou ele.
Freie o animal subitamente, e o encarei.
–O que está acontecendo aqui?
–Desculpe senhor, não deve fazer perguntas!
Serrei os punhos, apertando com força as rédeas contra as palmas das minhas mãos.
–Não me diga o que fazer!
O soldado apontou sua arma em minha direção e avançou um pouco mais, parando bem próximo ao meu veiculo.
–Obedeça, senhor! –Ordenou ele.
Atraídos pela discussão, mais três soldados se aproximaram, seguidos por uma quarta pessoa, um homem de trajes escuros, longos cabelos negros e semblante serio, marcado por diversas cicatrizes quase imperceptíveis se comparadas com uma maior e mais profunda que cruzava da sobrancelha esquerda até o canto direito de seu queixo. Seus olhos eram pequenos e apertados, e emanavam um sutil avermelhado de dentro de suas Iris.
–O que está havendo aqui Ozik? –Indagou sua voz grave e calma.
O soldado virou-se para os outros, e baixou a guarda.
–Este Yutaliano se recusa a acatar uma ordem imperial, senhor Ember. –Disse ele.
Ember, era esse o nome dele, e parecia ser de hierarquia superior ao daquelas soldados. Mas por que?
O homem aproximou-se de mim, e permaneceu observando-me por um instante, sem pronunciar uma palavra. Fitou-me nos olhos e virou as costas em seguida.
–Ele não é importante. –Afirmou ele. –Devemos nos retirar, nossa missão aqui já terminou, chame os outros!
–Será feito senhor!
O homem retirou-se, sumindo entre as poucas pessoas que ainda transitavam nas ruas, seguido pelos mesmos guardas que o acompanhava. Não pude definir quem ele era, mas estava a serviço do império buscando alguma coisa em Yutar... Mas o que?
Continua...
Paulo “SpeedRain” Rodrigo
Nenhum comentário:
Postar um comentário