Após jogar varias aventuras, e presenciar vários acontecimentos estranhos em muitas delas, veio-me a cabeça uma pergunta lógica cuja resposta parece ser um detalhe ignorado ou esquecido pela maioria dos mestres ou escritores de enredos de RPGs.
Monstros. Eles existem, mas para que?
Em nosso mundo (real), nós somos a única raça inteligente dentre bilhões de outras, e por isso nos colocamos na posição de “especiais”, o resto são apenas animais motivados puramente pelo instinto. Se nosso mundo real fosse na verdade um mundo de RPG, nós seriamos a única “raça jogavel”, e os animais seriam os monstros. Mas em um mundo de RPG há varias raças inteligentes, tais como goblins, trolls, orcs e etc. Então se este mesmo mundo fosse o real, essas espécies não seriam animais, e sim seres “especiais” como nós, certo? Mas então por que tratá-los como monstros?
Em reinos populosos, onde há muitas raças vivendo em uma complexa sociedade, é comum que o mestre coloque os jogadores para se aventurar dentro de cavernas e masmorras perigosas, infestadas de monstros, e nessa hora ele dirá:
– Vocês vêem um grupo de goblins poucos metros à frente.
Então um dos jogadores dirá algo como:
–Certo, empunho minhas duas espadas e parto pra cima usando meu ataque especial vorpal + 1d6!
E assim é decretada a pena de morte dos “monstros”.
Mas esperem um pouco. Se os personagens jogadores vivem em uma sociedade habitada por diversas raças humanóides, isso também incluiria aqueles pobres goblins, não é verdade? Então, na pratica, nosso grupo de bravos e virtuosos heróis acabara de cometer uma chacina, concorda?
Se há “monstros” na caverna, na masmorra, na floresta ou onde quer que seja, eles não estão lá apenas esperando para serem mortos e dar pontos de experiência para os jogadores. Encontram-se lá por que estão fazendo algo relacionado uma rotina ou tarefa pessoal, e simplesmente matá-los poderá (e deve) trazer conseqüências futuras para o grupo de jogadores que futuramente poderão ser presos por um assassinato de um comerciante orc morto em uma floresta enquanto voltava para casa depois de um dia de trabalho.
Também há aqueles outros monstros, tais como hidras, aranhas gigantes, lesmas carnívoras, dragões... Pobres animais que também tem seus destinos traçados pela marca da morte ao primeiro sinal de nossos heróis. Mas por quê? Pra que? Acha que toda a fauna do mundo é apenas uma fonte inesgotável de pontos de experiência para subir níveis e mais níveis? Claro que não.
Quando escrevemos uma historia, aventura ou enredo de RPG, devemos ter em mente que o mundo no qual ela se passa, é um mundo que funciona exatamente igual ao nosso.
Nele há leis, e os personagens devem segui-las se quiserem se evitar problemas com as autoridades. Não é por que eu vejo um animal que eu devo matá-lo.
Concordo que toda boa aventura tem que ter monstros, afinal lutar contra hordas deles é uma das coisas que mais divertem no RPG, porém, a presença deles na aventura precisa ser realmente necessária. Se um desses monstros ataca os heróis, motivos ele tem que ter, e cabe ao escritor pensar em cada um desses motivos.
Um exemplo disso pode ser mostrado em O Senhor Dos Anéis. O grupo de aventureiros possui a difícil tarefa de destruir o Um Anel, e para isso precisam cruzar a Terra Média rumo a Mordor. Eles enfrentam orcs, goblins, homens aliados à Sauron e monstros, como dragões e aranhas gigantes, mas todos esses oponentes estão lá por que há uma razão lógica para que tenham que lutar contra os aventureiros. Alguns querem apenas alimentar-se da carne de alguém, outros querem o Um Anel.
Construir uma trama com monstros dentro do contexto é algo que tornará seu cenário de campanha um lugar mais natural e realista, e mudará a forma com que os jogadores a sentem a aventura. Digo isso não só como mestre, mas como um jogador inconformado em matar, pilhar e “upar”.
Da próxima vez que você for planejar seu RPG, lembre-se que todos os “monstros” se sua historia são NPCs (personagens não jogáveis) que estão lá por algum motivo relacionado aos fatos de sua historia... Ou pelo menos coloque as autoridades locais atrás de seus virtuosos heróis assassinos.
Paulo “SpeedRain” Rodrigo
(Artigo retirado da revista Contos do Bardo #1)
2 comentários:
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