1 de nov. de 2010

Vingança Rubra - Parte 1

Jaq-el e Jafh-oel

Era um fim de tarde qualquer na tribo Jah-fa, os guerreiros trocavam turnos de ronda, a maioria deles voltava para casa, enquanto alguns permaneciam andando imponentes pelas pequenas trilhas da tribo, exibindo suas enormes lanças em mãos, enquanto as cimitarras mantinham-se pendidas na cintura.

Porém havia uma das mulheres da tribo que não esperava o marido naquele dia, tampouco em toda sua vida. Era Jaq-el, uma linda jovem, talvez a única sobrevivente de um ataque a uma caravana no deserto. Poucos sabem realmente o que aconteceu com ela. Alguns dizem que foi por ela, outros que foi poupada perante a intervenção divina. Porém, um grupo de guerreiro passou por ali e achou a jovem. Destino talvez. Melhor fosse.

Naquele dia, o Deus da Morte, cujo nome é impronunciável pelos mortais, resolveu intervir diretamente no mundo humano. Talvez diretamente até demais. Ele liderava aquele grupo de homens que acabara de sair de uma das mais sangrentas batalhas da história Taladin, mas sem importância nesta narração. Foi ele quem salvou a mulher. Ser o deus da morte não representa tomar as vidas para si. Não naquele instante.
Naquele mesmo dia, o deus da morte recebeu uma mensagem dos tempos que ainda viriam. As areias dos tempos futuros traziam uma notícia que não deveria existir, que deveria ser subscrita por uma maior. Assim o deus da morte olhou para a jovem e viu que ela poderia representar o futuro de sua criação. O futuro dos Taladin.

A tribo Jah-fa

Apenas mais uma aliada. Assim os Taladin falariam sobre a tribo Jah-fa. Porém eles não sabiam que dali surgiria a única esperança dos deuses de manter a vida Taladin. Manter o sangue divino e imortal em terra. Pena que eles nunca descobriram isso.

A tribo Jah-fa era pequena demais, se comparada às tribos que habitam o imenso deserto de Denália, descartando os Taladin, o povo da planície, a ofensa ao Deus do Deserto. Porém era uma importante aliada quanto à parte territorial e militar. A tribo tinha bons guerreiros, não em número suficiente para provocar qualquer tensão às muralhas Taladin, porém em questões geográficas, a presença de uma tribo inimiga em tal posição poderia representar grandes perdas.

Deixando de lado questões diplomáticas, a importância da tribo no fator histórico é maior que se imagina. Jaq-el, uma mulher rodeada de mistérios do passado era a mãe de Jafh-oel, um garoto que se mostrava imponente e avançado em tudo que fazia. Não havia,entre os jovens, tão bravo guerreiro, tão astuto caçador e tão sábio conselheiro, chegando a superar até mesmo alguns guerreiros da tribo. O mais interessante é que ele possuía um incrível dom de regeneração cuja origem ninguém jamais pode supor.

O pai de Jafh-oel não é conhecido. Tudo que se sabe é que, algum tempo depois de sua mãe ser salva da morte, ela o concebeu. Foi estuprada pelos saqueadores, dizem uns, entregou-se aos guerreiros, dizem outros. Os mais ousados dizem que é intervenção divina. Antes fossem as primeiras opções.

A verdade é que, após a salvar, o Deus da Morte, que liderava os homens naquele dia, viu bondade e pureza no coração da moça. Talvez ele nunca mais tenha visto algo assim.

A mensagem não alegrou o Deus da Morte. Traição. Não por vontade própria, não por sede de poder. Talvez por amor. Talvez por amor aos filhos indefesos. Foi por isso que a deusa da vida sucumbiu ao desejo do resto do panteão.

Criar um filho deficiente para ele não ser capaz de dar continuidade à vida divina entre os Taladin. Esse foi o plano do panteão, imposto para a Deusa da Vida, que sempre se manteve, ou tentou se manter, oculta perante aos planos e intervenções aos seus filhos.

O Deus da Morte talvez tenha entendido o que sua dama fez. Talvez ela mesma tenha lhe enviado a mensagem, cujo conteúdo continha a queda dos Taladin. A morte da fonte de água da vida. E justamente ai a história humana entrevem à divina. Aquela moça poderia salvar o seu sangue. Não ela. Mas dela viria o salvador.

Ao salvar a jovem, o Deus da Morte a tomou naquela noite. Alguns dizem que nem mesmo ela sabe de onde veio o garoto. Esses sim estão certos. Ele tirou da lembrança da jovem aquela cena. Não porque era errado. Mas pelo simples fato de que aquela era a única chance de sobrevivência dos Taladin. Talvez a única chance que não deveria ser perdida, em momento algum.

A jovem Jaq-el logo deu à luz a um menino, cujo nome era Jafh-oel. Logo todos viram que o garoto não era igual aos outros. Ele era mais forte e inteligente que os garotos de sua idade e era observado dia e noite por seu pai e protetor, o Deus da Morte. Porém ele não intervinha sobre ele. O panteão não podia saber sobre aquele menino. Não agora.

O fim de um império...

Como a mensagem previu, o desastre ocorreu. O garoto que seria o líder dos Taladin nasceu com deformidades corporais e insuficiências mentais. Enquanto de um lado o garoto Jafh-oel crescia se destacando, o descendente direto dos deuses era apenas mais uma peça movida pelo panteão. Ele morreu pouco tempo depois de nascer. A poderosa água da vida parecia ser negada aos deuses para ele.
A morte do futuro regente destroçou a política dos Taladin. A economia foi a frangalhos, o exército se tornava impotente. Aos poucos os três deuses patronos daquele povo se viam perdidos. Não havia mais uma ligação entre eles e seu povo. Por enquanto.

O Deus do Deserto finalmente viu a chance de destruir aquela infâmia em meio ao seu território. Aquele povo da planície, que difamava seu poderio. Forjando uma aliança secreta com o Deus da Guerra, ele conseguiu a única arma que precisava. A corrupção. O Deus da Guerra, mesmo tendo ajudado a erguer o império Taladin, fornecendo as técnicas de forja e táticas de batalha, não podia deixar de seguir sua sina. Guerras, massacres, sangue, mortes. Tudo isso o tornava mais forte.

Um veneno foi feito a partir de uma versão profana das águas da vida que emanavam da rocha no centro do oásis onde viviam os Taladin. Algo tão poderoso que poderia difamar as águas. Uma só gota mataria qualquer ser humano. Sua fórmula foi entregue às tribos servas do deserto. Os nômades multiplicaram a fórmula em questão de meses. Era tudo que precisavam.

E aqui voltamos à nossa história, partindo da marcha de guerra dos nômades. Jafh-oel será deixado de lado por um tempo. Por um tempo...

...O fim, Ou não

Os nômades foram guiados pelo deserto, se juntando, formando um exército capaz de derrotar as forças de Taladin. Assim pensavam eles. Não conseguiriam, se não tivessem a recém-batizada arma. A vingança rubra. As armas foram banhadas no veneno. As armas estavam cobertas de vingança. Finalmente o Deus do Deserto poderia usar da força para expulsar os homens que profanavam seu terreno.

O exército nômade marchava pelo deserto, logo tomando posição ofensiva em frente às grandes muralhas Taladin. Os arqueiros da cidade se posicionavam sobre os grandes muros, a infantaria protegia o portão, enquanto a cavalaria se posicionava em frente ao enorme exército nômade. Os elefantes não puderam ser usados a tempo. Eles não mudariam em nada. Elefantes não podem mudar os planos dos deuses.

Naquele dia não houve negociações entre generais. Todos ali sabiam o que iria acontecer. Ou não. Os nômades avançaram, eles não tinham um objetivo humano, não tinham uma ambição. Terra, ouro. Nada disso, eram apenas influenciados pelo deserto. Eram apenas peões em uma grande jogada dos deuses. Do Deus do Deserto.

Mesmo com o grandioso exército, os nômades pareciam não conseguir avançar sobre as fileiras de camelos, as flechas atiradas das muralhas causaram baixas significantes. O veneno parecia não fazer efeito contra os Taladin. Por enquanto...

As perdas eram enormes nas fileiras nômades, as cimitarras manchadas, a vingança não eram suficiente. A cavalaria Taladin massacrava os infantes, os poucos arqueiros nômades não estavam acima da contagem dos guerreiros, tampouco sobre os cavaleiros. Porém eles não recuavam, não até que o deserto os ordenasse. E ele não ordenou.

Os arqueiros Taladin acabaram com os últimos homens. Não houve tentativa de fuga. Não houve intervenção da infantaria, nem se quer de oficiais. Os Taladin pensavam que aquele havia sido apenas mais um dos vários ataques às suas muralhas. Mas aquele não era apenas um ataque. Aquele era o ataque que representaria o fim dos filhos dos deuses.

A maior parte da cavalaria havia lutado, consequentemente a maioria dela havia se ferido. Como era de costume, os feridos se banhavam nas águas da vida. E eles se banharam. Mas nada aconteceu como de costume. As feridas ferveram ao invés de se fechar, os gritos agonizantes dos cavaleiros eram ouvidos por todo o reino Taladin.

A vingança rubra começava a agir, o veneno não entrou na corrente sanguínea dos cavaleiros, ela se espalhou pelas águas sagradas que aos poucos foi se tornando rubra. A vingança se espalhava pelas águas. Elas se tornavam profanas. Os cavaleiros que entraram na água morreram.
As águas que irrigavam as plantações acabaram matando-as. Ninguém mais tornou a bebê-la, os poucos reservatórios se acabaram. Algumas comissões foram enviadas pelo deserto à procura de água. Nenhuma delas retornou. Todas foram engolidas pelo deserto, satisfazendo o Deus do Deserto e alegrando o Deus da Guerra, que assistia a cena do império desmoronando como uma criança olhando um nobre guerreiro girando sua brilhante espada.

A população morria aos montes, as doenças causadas pela água profana eram muitas. Os Taladin nunca haviam saído daquele oásis, os que tentaram sair morreram a poucos quilômetros dali. Os guerreiros foram obrigados a permanecer nas muralhas, pois o povo começara a sofrer inúmeros ataques de pequenas tribos nômades. Eles não traziam mais da vingança rubra, não havia porque usá-la. Cada ataque parecia o maior dos cercos, por menor que fosse.

Logo não havia mais o povo Taladin. As grandes muralhas foram derrubadas, construções arruinadas. Os corpos que ali caiam não eram ceifados pelo Deus da Morte, aquele que havia fechado as portas da morte para aquele povo. Era o Deus da Escuridão, o senhor do abismo. Dizem que os ceifados por ele não morrem, mas também não vivem.

A cidade se tornou uma lenda carregada pelas areias do deserto, nunca mais foi encontrada. E assim ela, surgiu mais uma lenda. A de que um último Taladin respirava. O problema das lendas, é que elas podem ser reais.

Continua...

Mario Gobbo

Blog

Um comentário:

J. A. disse...

Legal!!! :D

Vou esperar pela continuação ^^